O estranho mundo em que vivemos mas especialmente, o estranho que me sinto e o monstro em que me começo a tornar...É Horrível.

quarta-feira, maio 09, 2007

Novela - Zulmira - Parte I

Zulmira olhava em redor e só via o negro da noite, era estúpida porque eram três horas da tarde e o sol raiava forte. Triste como sempre e inchada de tanta porrada do marido, aprendeu a ver mau onde só existe bem. Zulmira nunca tinha sido nenhum génio deste mundo mas com tanta chapada e pontapé tinha perdido quarenta pontos de QI. Na véspera tinha levado uma surra mas, não libertou uma só lágrima. Fez mal porque roeu mais logo de seguida e só teve algum descanso quando o marido parou para ir à casa de banho. Mais tarde falarei deste bom homem. Na volta da casa de banho e já cansado, limitou-se a mandar uma única galheta, saindo de seguida para um café junto de seus amigos. Estava calmo. Zulmira gemia de dor e de tristeza pois, além das nódoas negras ainda frescas, tinha-se esquecido de meter o euromilhões. Não tenho sorte nenhuma – pensava ela. Tinha passado grande parte da semana a lembrar de jogar e chegada a hora nada, mais uma vez passava sem jogar. Ela queria ganhar algum dinheiro para comprar algo bonito a seu marido. Zulmira era uma jóia de pessoa. Era a maior defensora do marido e acreditava sempre no que ele dizia. Numa das surras que tinha levado deu-lhe para perguntar qual a razão de tal violência a que seu marido lhe respondeu: - não gosto dos teus brincos… ela chorou e tudo por causa de uns brincos nojentos que a sua mãe lhe tinha dado na hora da morte. Já tinha levado chapadas por ter tossido à frente do marido o que era mau para ela visto que sofria de bronquite. Os piores dias de Zulmira eram os de frio pois tinha de acender a lareira e o seu marido aproveitava para lhe bater com as cavacas. Uma vez levou com uma em cheio num olho e terá dito que não conseguia ver nada e, seu marido, deu-lhe uma tareia dizendo que quem é ela para gozar com os invisuais. Ela aceitou. Era ela que vestia as calças em casa pois o marido obrigava-a dizendo que lhe dava ideia que estava a bater num homem. Sempre que usava saia também roía na tromba pois o marido não apreciava em particular as varizes. Apesar de tudo Zulmira era uma mulher bonita e até o roxo das negras lhe ficava bem. Muito fraquinha de cabeça mas muito bonita. A beleza vinha do pai, o levar porrada da mãe e o gosto pelo vinho era mesmo dela. Ela tinha o problema da bebida controlado uma vez que de levar tanta porrada nem conseguia arranjar muito tempo para o fazer e, quando o conseguia, ainda lhe doía o corpo e nem o copo tinha força para levantar. O negro da noite que afinal era dia marcava a vida desta mulher de armas. As armas eram daquelas de imitação e, se serviam para alguma coisa, era apenas para levar mais porrada. Pouca coisa na casa não tinha ainda conhecimento do corpo de Zulmira. Seu marido era muito criativo e com qualquer coisa fazia festa. Os seus olhos revelavam uma vida árdua, as suas mãos trabalho e as suas pernas varizes. Não tinha filhos, muito derivado a um pontapé que lhe terá sido desferido no ventre que a terá deixado estéril. Quando soube, seu marido bateu-lhe por ela não lhe conseguir dar um filho. Zulmira teria sido uma boa mãe. Surpreende assim que todos os dias ela lá tivesse duas crianças a comer. Nunca questionou o marido sobre quem seriam. Também levava porrada daquelas crianças. Sempre noite para Zulmira, mas ela gostava.