O estranho mundo em que vivemos mas especialmente, o estranho que me sinto e o monstro em que me começo a tornar...É Horrível.

quarta-feira, novembro 23, 2005

A minha vida - Parte 1

Na impossibilidade de dormir, sem vontade de trabalhar ou falta de aptidão para pensar dignamente sobre assuntos realmente pertinentes, qualquer um acaba por se ver obrigado a olhar para si.
Após vários posts tentando evitar o assunto (compreensivelmente) e farto de procurar imagens de vegetais nojentos no Google, é altura de tocar na ferida. O Capitão resolve deixar cair a máscara e conta-nos tudo sobre a sua vida. O tédio tem destas coisas.
Prefácio de Diana Magalhães


A minha vida. Certamente um livro curto e sem interesse. Nenhuma editora irá algum dia pegar em algo parecido e, se isso acontecer, o mundo estará para acabar. Hoje cai a máscara. Escrevo frases curtas. Não sei bem porquê. Mas falando da minha vida, são 26 anos. É tanto e ao mesmo tempo nada. O que eu queria dizer era: “É nada sem futuro”. São 26 anos onde não se aproveita nada, pertenço à maior parte da população, os “medianos”, aqueles de que ninguém se lembra, aqueles que não deixam marca no mundo. Uma imagem semelhante, aqueles gnus todos a atravessarem o rio cheio de crocodilos (imagem clássica da vida animal). Eu sou um desses gnus, igual a tantos outros. Se morrer dizemos “Deixem lá, é um gnu, são tantos que nem interessa”.
Cada dia que passa tenho mais a certeza que a minha vinda ao mundo não teve nenhum objectivo. Nasci porque “teve de ser”. Uns vieram para matar, outros para roubar, outros para inventar, outros para reinar mas eu, eu não vim para nada. Não gosto de trabalhar, não gosto de comer, não sou sociável, detesto que falem comigo, canso-me e chateio-me facilmente, sou antipático, vingativo e odeio quase tudo e todos que me rodeiam. Sou chato, intelectualmente sou do mais normal que pode haver e pior, adoro-me e acho-me o melhor. Gozo com os outros, principalmente gordos, feios e com aqueles que têm os olhos tortos. Sou maldoso e muito cruel quando falo com os outros. Penso “como não me custa dizer, não deve custar ouvir”.
Adoro a morte e penso constantemente em acidentes de carro, situação em que acredito que vou perder a vida. Mesmo. Tenho medo de ficar velho e ter de depender de alguém e que esse alguém seja uma pessoa como eu, incapaz de ajudar um velho a atravessar a estrada. Assim, sempre tive a vontade de morrer cedo, mas nunca pelo suicídio, porque para isso é preciso coragem e nem isso tenho. Tenho medo de insectos de dois centímetros, tipo gafanhotos, louva-a-Deus, baratas, aranhas, tenho ainda medo de cobras, lagartos, gatos assanhados, cães com raiva, tigres, leões e crododilos. Tenho medo que me fure um pneu do carro, tenho medo que me acabe a gasolina, tenho medo do céu, tenho medo de bruxas e tenho medo da minha ex-namorada. Em relação a isto, até fico arrepiado quando falo nela porque o Diabo sempre me meteu alguma confusão. Nunca um atropelamento me pareceu tão boa ideia. Contei a um primo meu que uma vez ela me deu uma garrafa com uma mensagem de amor, tipo aquelas que se mandam quando estamos numa ilha. Contei também que ao passar por uma mata ou pinhal, como quiserem, a mandei para lá. Da boca dele surgiu a seguinte frase: “Onde a garrafa caiu, nunca mais cresce mato”. O pior é que isto é capaz de ser verdade. A macumba é uma coisa terrível.
As mulheres, sempre as tratei com aquele pensamento “esta vai, outra virá”. Tanto me adoram como depois me detestam. Normalíssimo e compreensível. Ganho inimigos com facilidade e a ideia agrada-me. Gosto quando me tratam mal, aguça-me os sentidos, e posso pensar em vingança. Termina aqui a Parte 1.

2 Comments:

Blogger webisomem said...

De gnu de 26 para gnu de 26, espero que consigas passar para o outro lado do rio.
Muito bom texto; serves pelo menos para isto.

2:01 da manhã

 
Blogger A Mulher said...

O prefácio, sim, é qualquer coisa de muito bom...

10:32 da tarde

 

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